tigrinhi Opinião - Música em Letras: Bonequeira, musicista e atriz Cris Miguel apresenta 'Podemos Voar Sem Asas'

 107    |      2025-03-03 15:23

A bonequeiratigrinhi, musicista e atriz Cris Miguel, 54, conta com mais de 35 anos encantando crianças e adultos através de suas criativas performances artísticas.

Em "Podemos Voar Sem Asas", sua peça teatral com bonecos que conta a história de uma princesa cadeirante, a princesa Tetê, apresentada aos domingos, sempre às 12h, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, não é diferente.

Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que Cris Miguel concedeu ao Música em Letras.

Uma artista está tocando um acordeão vermelho enquanto canta. Ela tem cabelo longo e escuro, e usa maquiagem colorida. À sua frente, há uma mesa vermelha com uma boneca sentada, que usa um vestido amarelo e uma coroa. O fundo é escuro, destacando a performance. A atriz, bonequeira, instrumentista e cantora Cris Miguel - Salomé Akhaladze/Divulgação

Qual a proposta da peça 'Podemos Voar Sem Asas'?

A proposta do espetáculo é falar sobre inclusão e trabalhar o poder transformador da arte. A história mostra a princesa Tetê, uma jovem cadeirante que sonha em voar para ver o mundo, quando seus pais, o rei e a rainha, decidem trazer o mundo para ela. Com contos de diferentes culturas, a peça convida o público a olhar para a beleza da vida e perceber que a arte e os sonhos podem nos levar a lugares incríveis, sem precisar de asas.

De quem é a autoria da peça?

A criação e o texto é de minha autoria, adaptei contos tradicionais e criei novas histórias, alinhavando tudo com a ideia central.

Você atua sozinha?

Sim, é um espetáculo solo, nele manipulo os bonecos, toco instrumentos e canto. Mas tenho parcerias importantes para esta montagem. Angelo Miguel [filho da atriz] construiu a cenografia comigo, Paula Galasso e Angelo me acompanham na construção dos bonecos também. Danilo Tomic, Fabíola Rosa, Gabriel Guimard como suporte de direção, a produção de Leonardo Escobar na Piô Produções, além de outras contribuições e assim o espetáculo fica mais feliz.

Para quem 'Podemos Voar Sem Asas' é direcionada?

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Para adultos e crianças a partir de seis anos.

Onde e quando 'Podemos Voar Sem Asas' estreou?

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A estreia aconteceu em 2023 no 27º Festival Internacional de Teatro Infantil e Juvenil de Bursa, na Turquia. Em 2024, o espetáculo retorna para o exterior para participar de mais três festivais de teatro de bonecos, na Turquia no décimo International Ankara Puppet Festival; na Bulgária, na cidade de Smolian, no 13º Festival Internacional de Teatro Proibido para Adultos, na Geórgia, na cidade de Batumi no segundo International Puppet Theatre Festival, um festival competitivo onde o espetáculo recebeu o prêmio de melhor música. Agora, a estreia no Brasil acontece no Sesc Bom Retiro.

Por que a peça estreou primeiramente no exterior?

Quando recebi o convite para o festival na Turquia em 2023, vi a oportunidade de experimentar a ideia de reunir bonecos de diferentes produções minhas, criando um espetáculo que celebra meus 30 anos como bonequeira. Além disso, como esses festivais reúnem artistas do mundo todo, achei interessante levar essa diversidade cultural através do olhar de uma artista brasileira, mostrando personagens de diferentes países em um único espetáculo.

A estreia no exterior foi uma experiência superenriquecedora, especialmente no Festival de Bursa, onde, além das apresentações, aconteciam conferências diárias sobre os espetáculos. Isso me deu a oportunidade de falar sobre todo o processo de criação, receber críticas, elogios e sugestões de artistas, diretores, críticos e curadores de vários países, permitindo um olhar mais aprofundado sobre a peça e ajudando a aprimorá-la ainda mais. Fizemos nove apresentações no exterior, antes de trazê-la para o Brasil.

Como foi a repercussão dessas apresentações no exterior?

Teve grande repercussão no primeiro festival que gerou o convite para retornar no ano seguinte em três países diferentes.

Um fato curioso foi na Bulgária, eu soube quando estava lá, que é um país que enfrenta desafios significativos em termos de inclusão de pessoas com deficiência, pois são marginalizados e discriminados. Crianças são impedidas de frequentar escolas regulares (não só escolas como até teatros e cinemas) e muitas enfrentam grandes barreiras no acesso à educação. É uma luta das famílias. Por isso foi importante levar este tema. As crianças ficaram surpresas ao ver uma princesa cadeirante, e a organizadora do festival me disse que isso foi pauta para discussão com elas. Sendo assim, recebi um convite para voltar à Bulgária para levar o espetáculo novamente a outros lugares com este tema em agosto deste ano e assim conscientizar mais pessoas sobre a inclusão, oxalá!

Qual a importância da música na peça sendo que você recorre também a utilização de bonecos, teatro de sombras e a técnica japonesa de contar histórias por meio de desenhos, 'kamishibai'?

Meu amor pelas músicas do mundo e pesquisa começou em 1988, em Curitiba, com a regente e educadora Liane Guariente e, mais tarde, em São Paulo, passei a integrar o grupo Mawaca, onde atuo há 28 anos. Ao lado do grupo dirigido por Magda Pucci, mergulhei profundamente no estudo das músicas tradicionais de diversos povos. Esse trabalho envolve um cuidado especial com a pronúncia, as melodias e o significado de cada canto. No espetáculo, a trilha sonora reflete essa pesquisa, com músicas que situam cada cultura e, em alguns casos, estão diretamente ligadas às histórias contadas.

No espetáculo, os verdadeiros contadores de histórias são os bonecos, e, para dar vida às narrativas deles, utilizo diferentes técnicas de teatro. O teatro de sombras que sempre traz aquela atmosfera mágica e onírica, enquanto o teatro de papel (conhecido como "toy theatre") transporta o público para cenários de encanto. Aprendi a arte dos livros pop-up com Galia Levy-Grad, artista bonequeira de Israel, e adaptei essa técnica para uma das histórias para dar movimento às cenas. Também uso o "kamishibai", a tradicional forma japonesa de contar histórias com ilustrações.

Descreva três músicas do espetáculo.

Para apresentar cada contador de histórias, primeiro executo uma canção tradicional do país de origem. No caso do Japão, escolhi "Otemoyan", um "min'yo" (canto folclórico japonês da província de Kumamoto). Essa música é tradicionalmente cantada e dançada em casamentos. A música tem várias palavras utilizadas somente na região. A canção tem um estilo engraçadinho, pois combina partes cantadas e faladas.

Aprendi essa canção e o "shamisen" com a sensei Tamie Kitahara, instrumento que o público poderá conhecer no espetáculo. Já para Madame Tsuru, a contadora de histórias do Japão, uma das músicas selecionadas é "Usagi Usagi, O Coelho da Lua", um canto tradicional infantil que explica por que vemos um coelho na lua.

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Para representar a Macedônia, executo no acordeom a canção "Što Mi E Milo", uma música folclórica que traz uma sonoridade característica do leste europeu. Escolhi essa peça porque sua melodia e ritmo transportam o público para essa região, criando o ambiente ideal para a história que será contada. E a história é contada pela raposa Lissa. A música é "Zaiko Kokoraiko", uma canção tradicional da Macedônia, que conta exatamente a história do coelho Zaiko se preparando para seu casamento com a raposa Lissa. Além da conexão direta com a narrativa, a música traz aquela sonoridade vibrante dos Bálcãs, com os ritmos assimétricos e um caráter teatral que enriquece a cena. Adoro Lissa e Zaiko!

Quem foi a sua fonte de inspiração para criar a personagem Tetê?

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A princesa Tetê é inspirada em Teresa Julian, filha dos artistas Simone Julian [Orquídeas do Brasil, Banda Glória, Banda Mirim] e Alexandre Farias [Banda Mirim]. Nascida com paralisia cerebral, Tetê usa cadeira de rodas e, aos 17 anos, segue enfrentando os desafios diários da sua condição. O espetáculo é uma homenagem a ela e a todas as pessoas com deficiência, trazendo beleza e encantamento para suas histórias. Também celebro a força de suas famílias, como Simone e Alexandre, que, além da dedicação à filha, seguem firmes em suas trajetórias artísticas.

Qual foi a reação da Tetê ao assistir à peça?

Tetê foi assistir ao espetáculo. Ela já tem um sorriso encantador, como diz o próprio texto da peça: "A princesa Tetê era amada em todo o reino por sua doçura e sorriso encantador!". Durante a apresentação, eu podia sentir sua alegria vibrando na plateia, bem ali na primeira fila. Depois, ao final do espetáculo, anunciei sua presença e ela se tornou a estrela do show, com as pessoas tirando fotos com ela e com a boneca, foi um momento muito bonito e especial. Mais tarde, sua mãe, Simone, me mandou uma mensagem emocionada, dizendo que Teresa saiu radiante de lá, que estava até diferente. Foi realmente um presente!

Como a arte pode se tornar ferramenta de inclusão?

Neste teatro a arte se torna uma ferramenta de inclusão ao dar visibilidade a narrativas pouco representadas, como uma princesa na cadeira de rodas, inspirando empatia. Através dos contos, da música e dos personagens, mostra que os sonhos e a imaginação transcendem qualquer barreira física. Tetê, a protagonista cadeirante, voa de muitas formas, reforçando que cada um pode explorar o mundo à sua maneira.

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Como voar sem asas?

Através da imaginação e criatividade, ou de um olhar por mais beleza no mundo, ou cada um pode encontrar sua forma de voar, ou existem até aqueles que já tem asas e nem sabem. E eu gosto também de falar sobre viagem astral. Muitas pessoas têm experiências de saída do corpo enquanto dormem, mas poucas falam sobre isso. E, para tantas, é algo natural, uma forma de voar sem limites físicos e conectar com outras dimensões. Estudo sobre este assunto desde 1999 no IPPB [Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas] com Wagner Borges, ele que me ensinou a voar sem asas.

Por que as pessoas devem assistir a essa peça?

Porque o espetáculo oferece uma rica viagem cultural, apresentando músicas e contos de diferentes países. Porque os personagens carismáticos vão conquistar o coração das pessoas através do encantamento que é o teatro de bonecos. Também porque a peça trata de temas de valor como generosidade, gratidão, cooperação, também nos levando a reflexões mais profundas, sobre sonhos e possibilidades infinitas e o que mais tocar o coração de cada um.

Além disso, é uma celebração dos meus 30 anos como bonequeira, o que torna esse projeto ainda mais especial. Bem, são tantos motivos, mas, por fim, garanto que passear no Sesc Bom Retiro é maravilhoso, e o ambiente acolhedor e cheio de arte e oportunidades torna a experiência ainda melhor. Esperamos que muitos cadeirantes e suas famílias também possam assistir ao espetáculo, se houver instituições interessadas em organizar uma turma pode entrar em contato com nossa produção, Leonardo Escobar da Piô Produção.

Podemos Voar sem Asas Quando Aos domingos (16), (23), 9 de março e 16 de março, às 12h Onde Sesc Bom Retiro - al. Nothmann, 185, São Paulo Preço R$ 12 a R$ 40

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